O uso da Inteligência Artificial tem sido cada vez mais intensamente debatido. Em um ano de eleições municipais, tornou-se necessário dar atenção ao conteúdo produzido por essas plataformas não só pelas equipes que compõem as campanhas como por outros setores, como o jornalismo.
Na quinta-feira (9), o assunto foi debatido na Câmara dos Deputados. De acordo com o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), é necessário discutir o tema amplamente para que ele seja regulamentado posteriormente. “Há uma certeza: um tema tão amplo e complexo não pode ser definido de forma precipitada, deve-se promover um amplo e plural debate na sociedade brasileira, sob pena de conduzirmos o país numa direção perigosa, em que deixemos de aproveitar os benefícios da tecnologia e nos tornemos refém dos seus riscos”, disse.
Atualmente, há um projeto no Senado, apresentado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O texto está sendo analisado junto a outras nove propostas, inclusive uma já aprovada pela Câmara, que lista diretrizes para o fomento e a atuação do poder público no tema. O texto está em análise na Comissão Temporária sobre Inteligência Artificial no Brasil do Senado, cujo prazo acaba no dia 25 de maio.
Na ocasião, Heloísa Massaro, diretora de Pesquisa e Operações do InternetLab, deu exemplos de maus usos da IA. Entre eles, a fabricação de um áudio do presidente norte-americano Joe Biden falando que as pessoas não precisavam votar nas eleições presidenciais primárias, ou seja, desestimulando a participação dos cidadãos.
Heloísa salientou que a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbe os deep fakes, algo que pode se somar aos esforços de big techs, como o selo indicador de IA recentemente implementado pelo Instagram.
No entanto, alguns profissionais defendem que é possível utilizar a tecnologia como uma ferramenta democrática. A professora Tainá Junquilho destacou usos possíveis da IA nas eleições, segundo a resolução do TSE, como a produção de discursos e os chatbots – robôs – para interação com eleitores.
Inteligência Artificial no jornalismo
Para que o assunto seja debatido em toda a sua complexidade, é necessário envolver outros atores da democracia. Atualmente, também é possível utilizar a IA no campo do jornalismo, mas existem dúvidas sobre o que pode ser ético ou não na prática.
Algumas redações não possuem um posicionamento definido em relação ao uso de IA, deixando a escolha a cargo de cada jornalista, como é o caso da DeFato. Outras já divulgaram algum tipo de pronunciamento.
No manual de redação publicado no site da revista AzMina, a equipe afirma que faz o uso de IA de maneira complementar e específica, como correção ortográfica e sugestões práticas. Além disso, reconhece a responsabilidade desse uso diante dos perigos possíveis da tecnologia. “Nenhum conteúdo gerado, parcial ou integralmente, por meio de inteligência artificial é publicado nos canais AzMina sem revisão humana. Todo conteúdo cuja produção envolva IA será analisado criticamente e terá sua autenticidade verificada”, diz um trecho do manual.
Profissionais do marketing também têm olhado para a tecnologia com atenção. Em um comunicado, a agência Conversion desaconselha o uso da IA para geração de conteúdo e a classifica como assistente. Um dos motivos é a queda no ranqueamento no Google por não cumprirem com alguns critérios de qualidade da plataforma: “Esses conteúdos não estão gerando valor e simplesmente estão poluindo a internet com mais páginas com as mesmas informações”, diz o posicionamento.
No entanto, a agência especializada em estratégias de ranqueamento afirma estar empolgada com a tecnologia e destaca possibilidades positivas, como fazer perguntas simples e analisar planilhas.