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Fernando Silva: As eleições dos Estados Unidos e o fator RFK

O mundo acompanha com apreensão o processo eleitoral dos Estados Unidos. A votação acontecerá em novembro. O primeiro debate entre Joe Biden e Donaldo Trump, no dia 27 do mês passado, chamou a atenção. O bate-boca de Atlanta virou atração planetária. O encontro foi muito didático. De um lado do “ringue”, um democrata confuso e vacilante. Na outra ponta, o republicano cheio de mentiras para dar.

O evento foi surrealista. Em certo momento, a baixaria tomou conta do recinto. Nesse instante, a maior potência do planeta se transformou num bananal da periferia. No final das contas, ficou no ar a lógica percepção: é dura a vida do eleitor americano. Para além de escolher o menos ruim, resta a opção de selecionar o ator com dose menor de exotismo. Biden, 81 anos, é velho. Trump já chegou aos 78 e está longe de ser garoto. Mas, atenção. Velhice não rima com velhacaria.

O sistema americano é estranho. Nem sempre o preferido da população entra na Casa Branca. E tem mais uma bizarrice no ponto derradeiro. Uma elite exclusiva de 538 delegados seleciona o homem mais poderoso do tabuleiro da geopolítica. O pleito presidencial da terra de Tio Sam conserva característica específica: a polarização. Os partidos Democrata e Republicano são eternos protagonistas do embate. Mas a legislação deixa uma brecha para o furo dessa bolha dual. A admissão de candidaturas independentes é uma ferramenta para a superação do consistente paradigma. Em outras palavras, um americano qualquer, sem filiação partidária, pode concorrer livremente. Essa prerrogativa até já foi colocada em prática. Nas eleições de 1992 — vencida por Bill Clinton — o empresário texano Ross Perot fez carreira solo e se transformou numa estrela do certame. Cerca de 8% dos votantes apostaram nele.

Na disputa deste ano, uma personagem com “pedigree” promete fazer barulho. Anote o nome (e sobrenome) do ponto fora da curva: Robert Francis Kennedy Junior, de 70 anos — popular RFKJr. O sujeito é sobrinho do ex-presidente John Kennedy e filho do ex-senador Robert Kennedy. Ambos assassinados. O tio levou um tiro na cabeça durante desfile em carro aberto, numa rua de Dallas, em 22 de novembro de 1963. O pai foi alvejado por vários disparos quando participava de uma prévia para a candidatura presidencial, no dia 6 de junho de 1968, em Los Angeles.

RFK promete tumultuar a coisa toda. E tem potencial para isso. Por muito pouco, esse político bissexto não compareceu ao debate da CNN. As regras americanas permitem a participação de candidatos com percentual de até 15%, em quatro pesquisas nacionais diferentes. O instituto Reuters/Ipsos divulgou os seguintes números no final de junho: Donald Trump: 40%, Joe Biden: 38% e RFK: 14%.

Mas por que o “nanico” veio para confundir e não para explicar? Elementar, meu caro Watson. Ele tira votos dos astros principais. A sua origem de Democrata atrapalha as pretensões de Biden. Avacalha com Trump porque ambos cantam a mesma ópera bufa. O membro do clã dos Kennedy é intelectualmente bizarro. Mente compulsivamente o tempo todo. E mais. É negacionista compulsivo. Se posiciona radicalmente contra vacinas. Defende ideias malucas. Confira uma das suas mais estapafúrdias declarações: “elementos químicos na água afetam a sexualidade das crianças”. Tudo muito absurdo. Imagine um debate entre Joe Biden, Donald Trump e RFKJr? Seria a exibição de um daqueles clássicos filmes de terror de Hollywood ou genuína comédia grega. Tomara que aconteça.

P.S.: RFKJr é advogado e jamais ocupou cargos públicos. Adora cachorros e difunde teorias conspiratórias. É uma espécie de Milei da América do Norte. Mas que fique claro. São remotíssimas as suas chances de se eleger presidente dos EUA, mas pode bagunçar o processo eleitoral.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.



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