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E lá se foi a Fabíola Colares, primeira mulher setorista de um clube de futebol em Minas

Rogério Perez, Fabíola, Orlando Augusto e Chico Maia

Quase escrevi como título pra este texto, que “Lá se foi a musa da cobertura da Copa do Mundo de 1994”, mas soaria vulgar para personagem tão importante da imprensa brasileira. Fabíola foi muito mais que isso e contarei na sequência.

A primeira reação que temos sobre a perda de alguém querido é de incredulidade. Não quis acreditar quando o amigo jornalista dos tempos do jornal Hoje em Dia, Clésio Giovani, me informou que ela tinha partido.

Andou sentindo umas dores de cabeça, procurou médico, fez exames e nada de anormal fora encontrado. Mas, dormiu ontem e não acordou hoje!

O que é isso, Fabíola? Como é que você faz isso conosco, que gostamos tanto de você?

Nas praias da Califórnia durante a Copa dos EUA, Orlando Augusto fotografa Fabíola enquanto Rogério Perez soltava um dos seus sorrisos característicos

Até parece que temos poder ou autoridade para questionar ou pedir alguma coisa neste sentido, em situações com essa, não é? Nessas horas vale tudo para diminuir a dor, disfarçar o desespero e torcer pra que seja apenas um pesadelo.

E como tenho passado por isso nos últimos tempos!

Brigamos e nos divertimos muito durante a Copa de 1994

Numa das fotos mais recentes, ela, cruzeirense até debaixo d’água, com a atleticana, uma das fundadoras da Galosampa, Paula Rangel, grande amiga jornalista, que voltou a morar em Belo Horizonte depois um bom tempo como correspondente da Rádio Itatiaia em São Paulo

Não tem jeito. Não há anestesia, não há remédio, não há argumento, não há votos de pêsames que conforte! Só a resignação! Simbora que a vida continua!

Orlando Augusto, Rogério Perez, eu e ela

Que dor dá, imaginar que tantas combinações que fizemos, de nos encontrar nos últimos anos, falharam. Ela se mudou de Belo Horizonte, foi pra Fortaleza, Aracaju, Brasília e agora, só no além! Se este “além” existir. Torço fervorosamente que exista. Quanta gente eu gostaria, e quero, reencontrar!

Eu, ela, Mestre Perez e Roberto Abras, no centro de imprensa do estádio Rose Bowl, no dia da final da Copa, entre Brasil e Itália

Antes de começar o primeiro treino da seleção brasileira para o jogo contra os Estados Unidos, pelas oitavas de final da Copa de 1994, o Juca Kfouri me perguntou:
_ Maia, seria exagero considerarmos a Fabíola como a musa da cobertura dessa Copa? _ Não! – respondi, acrescentando que, ela era mais repórter do que um rosto bonito.

Não eram tantas repórteres como hoje, mas ela ficou marcada como a mulher mais bonita entre todas daquela cobertura presencial da Copa dos Estados Unidos.

Falastrona, intempestiva, sabidona e esperta, Fabíola defendia suas convicções e enfrentava qualquer um, em defesa de seus argumentos.

Rogério Perez era o chefe da redação do Hoje em Dia e a escalou como setorista do Cruzeiro. Um “espanto”, como ele gostava de dizer. Mas naqueles tempos era assim. Lugar de mulher não era em determinados lugares do futebol, principalmente em treinos e vestiários.

Já havia pioneiras com destaque, mas no noticiário geral, como a Vânia Turci (Globo/Rádio Capital), Rasália Dayrrel (Band) e a fenomenal Tânia Mara, da Alvorada FM, Mas, setorista, do dia a dia, de um clube, a Fabíola foi a primeira. E do Cruzeiro, paixão dela!

Nos tempos dos orelhões, de ótima qualidade de som, durante a Copa dos EUA. Eu passando boletim para a Alvorada FM e ela para o Jornal Hoje em Dia

Durante da Copa dos Estados Unidos ela “arrebentou” ao dar, em absoluta primeira mão, que o quase já “fenômeno” Ronaldo, estava vendido pelo Cruzeiro ao PSV, da Holanda, por 10 milhões de dólares.

Loira bonita e conversada, ela atraiu a atenção daquele circo do futebol, que incluía torcedores, dirigentes, imprensa, ex-jogadores, “celebridades” e sub-celebridades, enfim…

A Brahma, pré Ambev, montava em toda Copa a “Casa da Brahma!, espaço que reunia convidados VIP e lobistas desse meio, e servia também como ponto de apoio exclusivo para a imprensa, com uma redação que tinha computadores, intranet, cafezinho e essas coisas, melhores que os do comitê organizador e FIFA.

Fora dessa redação, o pau comia, com samba, cerveja, rock ‘n roll e muita farra.
Nos Estados Unidos este espaço multinacional e “multifarras”, foi montado numa belíssima casa em Los Gatos, perto dos locais de treinos e concentração da seleção brasileira, de Parreira e Zagallo.
O famoso compositor e escritor Nelson Mota foi a primeira celebridade a se empolgar com a Fabíola. Estrategicamente se aproximou de mim, Rogério Perez e Orlando Augusto, que compartilhávamos com ela carro e hospedagens nessa cobertura de Copa, para o jornal Hoje em Dia, e no meu caso, a Rádio Alvorada FM.

De nosso “melhor amigo do mundo”, Mota passou a ser apenas um “olá”, depois que sentiu que a “nossa” louraça não queria nada com ele, por mais que ele investisse seu tempo e ótima conversa.

Um ex-grande jogador, atual bom comentarista de uma grande rede de televisão, também deu em cima dela, mas, igualmente sem êxito.

Numa bela tarde, depois de um dos últimos treinos da seleção na Universidade de San José, lá estávamos na “Casa da Brahma”, apinhada de gente, churrasco, comes, bebes e samba na base do 0800.

Jairzinho, o “Furacão” da Copa de 1970, intermediário da vinda do “garoto” Ronaldo Nazário, do São Cristóvão, do Rio, para o juvenil do Cruzeiro, bateu o olho na Fabíola e se entusiasmou. Chamou-a para um canto e passou quase uma hora conversando com ela. Ele na cerveja, ela só no refri. Depois de muita fala, ela subiu os degraus para o espaço dedicado à redação dos jornalistas, com vista para o jardim onde as festas rolavam, e ele voltou a se juntar a nós, na roda de samba, com direito ao ex-lateral Junior, do Flamengo, no pandeiro.

Um amigo dele, perguntou:
_ E aí, Jair?, vai rolar? E ele “p” da vida, reclamou: _ Que nada, cara; essa mulher é “boleirona” demais, só quer falar de futebol, perguntar pelo Ronaldo, de “submundo” do futebol e essas coisas. Chata pra caramba!

_ Ué, mas você queria o quê? Ela é jornalista, de futebol, e o assunto dela só podia ser esse mesmo!

__ O quê??? Jornalista??? PQP, então é isso! Contei coisa demais pra ela. Se ela publicar, vai dar uma merda danada!

Jair olhou pra cima, viu a Fabíola, no espaço da imprensa, digitando feito uma maluca, o que daí a pouco mandaria para a redação do Hoje em Dia no Brasil, via fax.

Ele tentou subir até lá, mas, portas trancadas, esbravejou, gritou, ameaçou, mandou vários PQP, mas a “loira” não se incomodava e continuava digitando.

No dia seguinte, a manchete que iniciou o fim da “era Masci” no Cruzeiro: “Ronaldo vendido ao PSV da Holanda, por US$ 10 milhões”, com os mínimos detalhes.

Foi uma confusão em Belo Horizonte. O então presidente César Masci convocou coletiva, desmentiu e falou horrores contra a Fabíola. Destemperado naquele momento, chamou-a de “puta” pra cima e a declarou “persona non grata” ao Cruzeiro, proibindo a entrada dela na Toca da Raposa, até que ela e o jornal desmentissem a notícia, que não foi desmentida, porque era tudo verdade.

Terminada a Copa, Brasil campeão, Ronaldo não voltou a Belo Horizonte nem para buscar as roupas dele.

Meses depois, um sobrinho do César Masci deu entrevistas complicadoras para o tio, “chutando o balde”, revelando valores, entornando o caldo.

Pouco depois da Copa de 1994, querida e respeitada por todos os colegas de profissão, resolveu mudar de ares, mudou-se para Fortaleza, onde continuou jornalista e se tornou também empreendedora no ramo de roupas femininas. Mais um tempo, se mudou para Brasília, onde, infelizmente, morreu, serenamente, dormindo, na noite dessa quinta, 19, para sexta-feira, triste 20 de julho de 2024.

Obrigado Fabíola querida, desculpe qualquer coisa, descanse em paz.

Que saudade!

Te amamos!
Até um dia!

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o time empatou com o Bragantino!”

Não assisti o jogo e este comentário, muito legal, é do cruzeirense Alisson Sol, mineiro…